O
historiador e etnólogo Edson Carneiro afirmou que em meados da década de 1950
havia cerca de cem terreiros de Candomblé na Bahia, de variadas nações, que
segundo sua pesquisa de campo, que coletou dados em 67 terreiros, se
auto-declararam 13 sub-nações: Angola, Caboclo, Ketu, Jeje, Ijexá, Muçurumin, Ilu-Ijexá, Alaqueto,
Africano, Daomé, Ioruba, Moxe-Congo, Angola-Congo, Congo-Caboclo e Angolinha,
que pertenciam às nações de Candomblés dos sudaneses, bantos, ameríndios e afro
indígenas. Em 2006 o Centro de Estudos Afro Orientais da UFBA executou o
Projeto de Regularização Fundiária dos Terreiros de Candomblé de Salvador e
identificou 1.408 terreiros, sendo que destes 677 foram criados nas duas
últimas décadas. A partir de uma análise histórica pudemos concluir o porquê de
uma tradição cultural tão forte e importante quanto o Candomblé, perdeu a
notoriedade e sua aceitação como manifestação cultural legítima da sociedade
soteropolitana e, consequentemente, a disseminação de informações sobre seus
costumes, tradições, cultos, santos e hierarquia.
O Candomblé é uma religião
monoteísta, embora alguns defendam que é um culto a vários deuses. O deus único
da nação Ketu é Olorum, ou Olodumaré, aos iorubanos, ou Zambi, aos bantoneses,
e a maioria dos participantes o considera como sendo o mesmo Deus dos
católicos. A auto-afirmação do Candomblé como religião e não como seita,
sustenta-se no conceito das duas palavras. Religião deriva do termo latino
“re-ligare” que significa estar unido a alguma coisa. Essa definição engloba
necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo
seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que
tenham como característica fundamental um conteúdo metafísico, ou seja, de além
do mundo físico. Sendo assim, o hábito, geralmente por parte de grupos
religiosos de tacharem tal ou qual grupo religioso rival de seita, não tem
apoio na definição do termo, posto que a palavra seita, deriva do latim
"secta", que nada mais é do que um segmento minoritário que se
diferencia das crenças majoritárias, oficias, assim denominadas, como religião.
Candomblé, é uma religião
afrobrasileira, trazida da África e que cultua deuses denominados Orixás
(divindades relacionadas a natureza e ao homem). Candomblé, Macumba, Xangô,
Batuque, Pará, Babaçuê ou Tambor, são designações das diversas regiões do país
para o Candomblé que foi ganhando particularidades, desde nomes dos cultos às
nominações dos Santos/Orixás cultuados.
À meia-noite, numa cerimônia de
macumba carioca ou paulista, todos os crentes são possuídos por Exu, uma
prática que constitui um verdadeiro absurdo para os fregueses dos candomblés a
Bahia. O toque dos atabaques de qualquer
região do país ficará surpreendido e atrapalhado ao encontrar esse instrumento
montado sobre um cavalete horizontalmente, com um couro de cada lado no Maranhão.
Que o pessoal das macumbas do Rio de Janeiro se apresente uniformizado, e não
com vestimentas características de cada divindade, não pode ser entendido por
quem frequente os candomblés da Bahia, os Xangôs do Recife ou os batuques de
Porto Alegre. E vendo dançar o babaçue do Pará com lenços (espadas) e cigarros
de Tauari, os crentes de outros Estados certamente franzirão o sobrolho. Se
tais coisas normalmente acontecem, não será porque esses cultos são diversos
entre si? (Carneiro, E. 2008, p. 13)
A significativa
expansão do número de terreiros na área do município de Salvador ao longo das
décadas de 1980 e 1990 leva a conclusão de que há uma conseqüente afirmação da
afro-religiosidade neste período.
CARNEIRO, Edson. Candomblés da
Bahia. São Paulo: wmfmartinsfontes, 2008.
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