quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O CANDOMBLÉ NA BAHIA





O historiador e etnólogo Edson Carneiro afirmou que em meados da década de 1950 havia cerca de cem terreiros de Candomblé na Bahia, de variadas nações, que segundo sua pesquisa de campo, que coletou dados em 67 terreiros, se auto-declararam 13 sub-nações: Angola, Caboclo, Ketu, Jeje, Ijexá, Muçurumin, Ilu-Ijexá, Alaqueto, Africano, Daomé, Ioruba, Moxe-Congo, Angola-Congo, Congo-Caboclo e Angolinha, que pertenciam às nações de Candomblés dos sudaneses, bantos, ameríndios e afro indígenas. Em 2006 o Centro de Estudos Afro Orientais da UFBA executou o Projeto de Regularização Fundiária dos Terreiros de Candomblé de Salvador e identificou 1.408 terreiros, sendo que destes 677 foram criados nas duas últimas décadas. A partir de uma análise histórica pudemos concluir o porquê de uma tradição cultural tão forte e importante quanto o Candomblé, perdeu a notoriedade e sua aceitação como manifestação cultural legítima da sociedade soteropolitana e, consequentemente, a disseminação de informações sobre seus costumes, tradições, cultos, santos e hierarquia.

O Candomblé é uma religião monoteísta, embora alguns defendam que é um culto a vários deuses. O deus único da nação Ketu é Olorum, ou Olodumaré, aos iorubanos, ou Zambi, aos bantoneses, e a maioria dos participantes o considera como sendo o mesmo Deus dos católicos. A auto-afirmação do Candomblé como religião e não como seita, sustenta-se no conceito das duas palavras. Religião deriva do termo latino “re-ligare” que significa estar unido a alguma coisa. Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo metafísico, ou seja, de além do mundo físico. Sendo assim, o hábito, geralmente por parte de grupos religiosos de tacharem tal ou qual grupo religioso rival de seita, não tem apoio na definição do termo, posto que a palavra seita, deriva do latim "secta", que nada mais é do que um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, oficias, assim denominadas, como religião.

Candomblé, é uma religião afrobrasileira, trazida da África e que cultua deuses denominados Orixás (divindades relacionadas a natureza e ao homem). Candomblé, Macumba, Xangô, Batuque, Pará, Babaçuê ou Tambor, são designações das diversas regiões do país para o Candomblé que foi ganhando particularidades, desde nomes dos cultos às nominações dos Santos/Orixás cultuados.

À meia-noite, numa cerimônia de macumba carioca ou paulista, todos os crentes são possuídos por Exu, uma prática que constitui um verdadeiro absurdo para os fregueses dos candomblés a Bahia. O toque dos  atabaques de qualquer região do país ficará surpreendido e atrapalhado ao encontrar esse instrumento montado sobre um cavalete horizontalmente, com um couro de cada lado no Maranhão. Que o pessoal das macumbas do Rio de Janeiro se apresente uniformizado, e não com vestimentas características de cada divindade, não pode ser entendido por quem frequente os candomblés da Bahia, os Xangôs do Recife ou os batuques de Porto Alegre. E vendo dançar o babaçue do Pará com lenços (espadas) e cigarros de Tauari, os crentes de outros Estados certamente franzirão o sobrolho. Se tais coisas normalmente acontecem, não será porque esses cultos são diversos entre si? (Carneiro, E. 2008, p. 13)

A significativa expansão do número de terreiros na área do município de Salvador ao longo das décadas de 1980 e 1990 leva a conclusão de que há uma conseqüente afirmação da afro-religiosidade neste período.


CARNEIRO, Edson. Candomblés da Bahia. São Paulo: wmfmartinsfontes, 2008.



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