segunda-feira, 10 de junho de 2013

Ilê Asé Odé Oluami e o Sincretismo religioso


Jidewá de Ossosi lidera a procissão em homenagem a Santo Antônio

A manhã de domingo, 09, foi marcada por fé e devoção de filhos e amigos do Babalorixá Jidewa de Ossosi. Jidewá é candomblecista e nunca abandonou a prática católica, batizado, crismado, dizimista e frequentador assíduo das missas dominicais o babalorixá que é devoto de Santo Antônio organizou uma linda procissão com destino a Paroquia São Miguel de Cotegipe em Simões Filho.


Santo Antônio saiu de andor do Terreiro Ilê Asé Odé Oluami em Simões Filho, por volta das 06h, durante a procissão foi aclamado pela população e fieis. Às 07h adentrou a igreja e foi muito bem recebido pelo Cônego Paulo Roberto Bittencourt que celebrou a missa em sua homenagem. 
Cônego Paulo Roberto Bittencourt 
Emocionado Jidewá declarou que somos pequenos para afirmar que não existe sincretismo entre o catolicismo e o candomblé: “sou a favor do sincretismo por uma questão religiosa, aprendi isso com os meus mais velhos e o candomblé é uma religião hierárquica, quem pode garantir que Santo Antônio não é ogum, que Iansã não é Santa Bárbara?” Afirma Jidewá.
Imagem de santo Antônio
Sincretismo Religioso no Brasil
Durante o processo de colonização do Brasil, notamos que a utilização dos africanos como mão de obra escrava estabeleceu um amplo leque de novidades em nosso cenário religioso. Ao chegarem aqui, os escravos de várias regiões da África traziam consigo várias crenças que se modificaram no espaço colonial. De forma geral, o contato entre nações africanas diferentes empreendeu a troca e a difusão de um grande número de divindades. 
Mediante essa situação, a Igreja Católica se colocava em um delicado dilema ao representar a religião oficial do espaço colonial. Em algumas situações, os clérigos tentavam reprimir as manifestações religiosas dos escravos e lhes impor o paradigma cristão. Em outras situações, preferiam fazer vista grossa aos cantos, batuques, danças e rezas ocorridas nas senzalas. Diversas vezes, os negros organizavam propositalmente suas manifestações em dias-santos ou durante outras festividades católicas.
Do ponto de vista dos representantes da elite colonial, a liberação das crenças religiosas africanas era interpretada positivamente. Ao manterem suas tradições religiosas, muitas nações africanas alimentavam as antigas rivalidades contra outros grupos de negros atingidos pela escravidão. Com a preservação desta hostilidade, a organização de fugas e levantes nas fazendas poderia diminuir sensivelmente.
Aparentemente, a participação dos negros nas manifestações de origem católica poderia representar a conversão religiosa dessas populações e a perda de sua identidade. Contudo, muitos escravos, mesmo se reconhecendo como cristãos, não abandonaram a fé nos orixás, voduns e inquices oriundos de sua terra natal. Ao longo do tempo, a coexistência das crendices abriu campo para que novas experiências religiosas – dotadas de elementos africanos, cristãos e indígenas – fossem estruturadas no Brasil.

É a partir dessa situação que podemos compreender porque vários santos católicos equivalem a determinadas divindades de origem africana. Além disso, podemos compreender como vários dos deuses africanos percorrem religiões distintas. Na atualidade, não é muito difícil conhecer alguém que professe uma determinada religião, mas que se simpatize ou também frequente outras. 
Dessa forma, observamos que o desenvolvimento da cultura religiosa brasileira foi evidentemente marcado por uma série de negociações, trocas e incorporações. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que podemos ver a presença de equivalências e proximidades entre os cultos africanos e as outras religiões estabelecidas no Brasil, também temos uma série de particularidades que definem várias diferenças. Por fim, o sincretismo religioso acabou articulando uma experiência cultural própria.
Não cabe dizer que o contato entre elas acabou designando um processo de aviltamento de religiões que aqui apareceram. Tanto do ponto de vista religioso, quanto em outros aspectos da nossa vida cotidiana, é possível observar que o diálogo entre os saberes abre espaço para diversas inovações. Por esta razão, é impossível acreditar que qualquer religião teria sido injustamente aviltada ou corrompida.

Por Rainer Sousa
Graduado em História


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