quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


Entrevista com o babalorixá Jidewa de Osoosi

Por Andréia Sales e Maiara Fernandes





Jidewá com a imagem  que representa Iyami Osoranga


Babalorixá do Ilé Asé Òdé Oluami, mais conhecido como Jidewá de Oxossí, Jailton Bispo dos Santos, possui 45 anos de Axé, e um currículo invejado, incluindo experiências internacionais e cursos no exterior, entre eles na cidade de Abeokuta, na Nigéria, (local conhecido como a terra de Ogum), Itália, França, Suíça, Portugal e outros países onde realizou alguns trabalhos particulares. Todo esse conhecimento serviu para que em 1990 Jidewá se inicia-se no Culto de Ifá: iniciação que Jidewá passa-se a chamar Ifagbemi, na ocasião, Jidewá recebeu o cajado Opá Oréré, símbolo dos Sacerdotes de Òrúnìlá-Ifá, que representa o poder máximo de Ifá, considerado Orixá do Destino e muito cultuado na África, principalmente na Nigéria.
Em uma tarde no Ilê Asé Odé Oluami, um dos pais-de-santo mais polêmicos e respaldados do país, abre as portas do seu terreiro, localizado no Rio Vermelho, e conta com exclusividade as jornalistas Andréia Salles e Maiara Fernandes, o que acontece nos bastidores do candomblé.


Blog de Jidewa: Como foi seu primeiro contato com o candomblé?

Jidewa de Osoosi: Eu não queria nada com o candomblé, eu era criança, criança quer alguma coisa? Criança quer brincar e o meu tutor não me deixou brincar, e eu tenho um lado muito parecido com o de Michael Jackson, (emoção), eu não tive chance, eu fui obrigado, praticamente, cheguei lá doente e tive que ficar. Sou filho adotivo e perdi cedo meus pais adotivos, foi tudo muito rápido e nessa época eu já estava envolvido na casa de um pai de santo e ele passou a ser o meu tutor. Foi um sofrimento danado porque quando você está na infância, você tem uma história, quando está na adolescência outra, e na puberdade outra, em resumo, eu não tive infância, não tive adolescência e não tive puberdade, fui castrado em tudo. Meus pais não me deixavam brincar como outras crianças, eu já fazia parte da religião.


BJ: Como você avalia o interesse da mídia pelo candomblé nas últimas décadas?

JO: As informações são muito destorcidas, fantasiosas, a TV utiliza muito a imagem de mãe Menininha, e outros famosos para se promover, eles não usam a imagem da riqueza e do ritual em si para valorizar, os veículos de comunicação são ambiciosos, eles têm a ambição de horários, de ibope, de coisas que dão ibope para eles, então, se colocar um pai-de-santo ou uma mãe-de-santo dando entrevista não vai dá muito ibope. Agora, se botar alguém mexendo o bumbum aí o negócio com certeza terá mais audiência. A informação sobre o candomblé é paupérrima, a educação religiosa deveria começar na escola, ou tem aula de todas as religiões ou não tem de nenhuma, e a partir daí todo mundo iria poder escolher sua religião de maneira consciente.


BJ: Você acha que comportamento do candomblecista influencia na imagem do candomblé perante a sociedade?

JO: Às vezes sim, há muita discrepância, muito anarquismo, muita vulgaridade. Se tem uma coisa que eu não prego é a hipocrisia, eu acho que qualquer coisa que seja bem feita, a depender da integridade de cada um, ela deve servir para você ficar de bem com Deus e com a sociedade. Há muita aberração, muita coisa que não é natural, há um exagero, e às vezes os próprios adeptos vão se afastando e o candomblé perdendo espaço para outras religiões.


BJ: Qual a maior dificuldade que você vê atualmente no Candomblé?

JO: Recursos, para que a gente não precise cobrar nada do ser humano e você não ter que se corromper, porque a partir do momento que você cobra uma consulta, você está se corrompendo. A gente não tem ajuda governamental e essa é uma das nossas maiores dificuldades.

BJ: Ser babalorixá é uma grande responsabilidade, como você lida com o excesso de confiança que seus filhos de santo tem em você?

JO: Ser babalorixá é carregar uma redoma cheia de espinho, eu fico emocionado porque é um carinho gritante que meus filhos de santo têm comigo, e olhe que eu sou brigão, sou pai mesmo, mas quando a mãe (de santo) “pega” é um negócio sério...


BJ: O senhor dá alguma orientação para quem quer entender a religião?

JO: Há muita riqueza, é só querer procurar e não se influenciar com a primeira informação que escuta, ou por alguma coisa que a pessoa ver de fantástica e que aparenta o folclore. Na verdade, a essência da religião não está no folclore, mas sim no dia-a-dia de cada casa de candomblé.


BJ: Você visitou a África algumas vezes...O que motivou sua ida há África?

JO: Fui estudar. Além disso, minha alma é África. Eu nasci lá e renasci no Brasil. Eu vim aqui para deixar o meu recado e quando eu for minha alma retornará a África com maior emoção.


BJ: Qual a diferença que você encontrou no candomblé africano?

JO: Durante a minha experiência na África, pude perceber que lá é tudo natural e o respeito já vem de berço, lá não se impõe o respeito, não se obriga. Os iniciados na África (yaô) são levados para a praça, no meio da feira, aonde tem movimento público. Não pode chegar perto de ninguém e todo povo dessa cultura já sabe.


BJ: Em relação a sua opção sexual... Você já sofreu preconceito religioso em relação a sua homosexualidade?

JO: O homossexual em si não deveria nem se chamar de homossexual, deveria se chamar homosofrimento entendeu? Porque o homossexual ele quer a força da mulher, ele imita a mulher, ele sente uma mulher dentro dele e ao mesmo tempo sente um homem e isso é um conflito. Além de sofrer as cobranças da sociedade, do dia-a-dia, tem ainda as consequências psicológicas.  


BJ: O que você tem a dizer às pessoas que estão chegando agora no candomblé?

JO: Cautela, respeito, fidelidade aos Orixás, as pessoas estão muito afoitas para ser ialorixá, babalorixá, pai não é qualquer um. No Brasil as pessoas já entram no candomblé visando os lucros, os méritos, sentar na cadeira, mas eles esquecem que é uma responsabilidade muito grande uma pessoa colocar a cabeça no chão (A cabeça, nas religiões de matriz africanas, é chamada de Orí, a mão de Ifá, e é tido como o primeiro Orixá que as pessoas recebem). Por isso que eu canto IFÁ DORIÓ, IFÁ DORIÓ, que significa você não está colocando a cabeça para mim, você está colocando a cabeça para Orumilá Ifá (Senhor dos destinos). Aviso para os que estão chegando com sede de poder, que tenham paciência e prudência.















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