Babalorixá do Ilé
Asé Òdé Oluami, mais conhecido como Jidewá de Oxossí, Jailton Bispo dos Santos,
possui 45 anos de Axé, e um currículo invejado, incluindo experiências
internacionais e cursos no exterior, entre eles na cidade de Abeokuta, na
Nigéria, (local conhecido como a terra de Ogum), Itália, França, Suíça,
Portugal e outros países onde realizou alguns trabalhos particulares. Todo esse
conhecimento serviu para que em 1990 Jidewá se inicia-se no Culto de Ifá:
iniciação que Jidewá passa-se a chamar Ifagbemi, na ocasião, Jidewá recebeu o
cajado Opá Oréré, símbolo dos Sacerdotes de Òrúnìlá-Ifá, que representa o poder
máximo de Ifá, considerado Orixá do Destino e muito cultuado na África,
principalmente na Nigéria.
Em uma tarde no
Ilê Asé Odé Oluami, um dos pais-de-santo mais polêmicos e respaldados do país,
abre as portas do seu terreiro, localizado no Rio Vermelho, e conta com
exclusividade as jornalistas Andréia Salles e Maiara Fernandes, o que acontece
nos bastidores do candomblé.
Blog de
Jidewa: Como foi seu primeiro contato com o candomblé?
Jidewa de
Osoosi: Eu não queria nada com o candomblé, eu era criança, criança quer
alguma coisa? Criança quer brincar e o meu tutor não me deixou brincar, e eu
tenho um lado muito parecido com o de Michael Jackson, (emoção), eu não
tive chance, eu fui obrigado, praticamente, cheguei lá doente e tive que ficar.
Sou filho adotivo e perdi cedo meus pais adotivos, foi tudo muito rápido e
nessa época eu já estava envolvido na casa de um pai de santo e ele passou a
ser o meu tutor. Foi um sofrimento danado porque quando você está na infância,
você tem uma história, quando está na adolescência outra, e na puberdade outra,
em resumo, eu não tive infância, não tive adolescência e não tive puberdade,
fui castrado em tudo. Meus pais não me deixavam brincar como outras crianças,
eu já fazia parte da religião.
BJ:
Como você avalia o interesse da mídia pelo candomblé nas últimas décadas?
JO: As
informações são muito destorcidas, fantasiosas, a TV utiliza muito a imagem de
mãe Menininha, e outros famosos para se promover, eles não usam a imagem da
riqueza e do ritual em si para valorizar, os veículos de comunicação são
ambiciosos, eles têm a ambição de horários, de ibope, de coisas que dão ibope
para eles, então, se colocar um pai-de-santo ou uma mãe-de-santo dando
entrevista não vai dá muito ibope. Agora, se botar alguém mexendo o bumbum aí o
negócio com certeza terá mais audiência. A informação sobre o candomblé é
paupérrima, a educação religiosa deveria começar na escola, ou tem aula de
todas as religiões ou não tem de nenhuma, e a partir daí todo mundo iria poder
escolher sua religião de maneira consciente.
BJ: Você acha
que comportamento do candomblecista influencia na imagem do candomblé perante a
sociedade?
JO: Às
vezes sim, há muita discrepância, muito anarquismo, muita vulgaridade. Se tem
uma coisa que eu não prego é a hipocrisia, eu acho que qualquer coisa que seja
bem feita, a depender da integridade de cada um, ela deve servir para você
ficar de bem com Deus e com a sociedade. Há muita aberração, muita coisa que
não é natural, há um exagero, e às vezes os próprios adeptos vão se afastando e
o candomblé perdendo espaço para outras religiões.
BJ: Qual a
maior dificuldade que você vê atualmente no
Candomblé?
JO:
Recursos, para que a gente não precise cobrar nada do ser humano e você não ter
que se corromper, porque a partir do momento que você cobra uma consulta, você
está se corrompendo. A gente não tem ajuda governamental e essa é uma das
nossas maiores dificuldades.
BJ: Ser
babalorixá é uma grande responsabilidade, como você lida com o excesso de
confiança que seus filhos de santo tem em você?
JO: Ser
babalorixá é carregar uma redoma cheia de espinho, eu fico emocionado porque é
um carinho gritante que meus filhos de santo têm comigo, e olhe que eu sou
brigão, sou pai mesmo, mas quando a mãe (de santo) “pega” é um negócio sério...
BJ: O senhor
dá alguma orientação para quem quer entender a religião?
JO: Há
muita riqueza, é só querer procurar e não se influenciar com a primeira
informação que escuta, ou por alguma coisa que a pessoa ver de fantástica e que
aparenta o folclore. Na verdade, a essência da
religião não está no folclore, mas sim no dia-a-dia de cada casa de candomblé.
BJ: Você
visitou a África algumas vezes...O que motivou sua ida há África?
JO: Fui estudar. Além disso, minha alma
é África. Eu nasci lá e renasci no Brasil. Eu vim aqui para deixar o meu recado
e quando eu for minha alma retornará a África com maior emoção.
BJ: Qual a
diferença que você encontrou no candomblé africano?
JO:
Durante a minha experiência na África, pude perceber que lá é tudo natural e o
respeito já vem de berço, lá não se impõe o respeito, não se obriga. Os
iniciados na África (yaô) são levados para a praça, no meio da feira, aonde tem
movimento público. Não pode chegar perto de ninguém e todo povo dessa cultura
já sabe.
BJ: Em relação a sua opção sexual... Você já
sofreu preconceito religioso em relação a sua homosexualidade?
JO: O
homossexual em si não deveria nem se chamar de homossexual, deveria se chamar
homosofrimento entendeu? Porque o homossexual ele quer a força da mulher, ele
imita a mulher, ele sente uma mulher dentro dele e ao mesmo tempo sente um
homem e isso é um conflito. Além de sofrer as cobranças da sociedade, do
dia-a-dia, tem ainda as consequências psicológicas.
BJ: O que
você tem a dizer às pessoas que estão chegando agora no candomblé?
JO: Cautela,
respeito, fidelidade aos Orixás, as pessoas estão muito afoitas para ser
ialorixá, babalorixá, pai não é qualquer um. No Brasil as pessoas já entram no
candomblé visando os lucros, os méritos, sentar na cadeira, mas eles esquecem
que é uma responsabilidade muito grande uma pessoa colocar a cabeça no chão (A
cabeça, nas religiões de matriz africanas, é chamada de Orí, a mão de Ifá, e é
tido como o primeiro Orixá que as pessoas recebem).
Por isso que eu canto IFÁ DORIÓ, IFÁ DORIÓ, que significa você não está
colocando a cabeça para mim, você está colocando a cabeça para Orumilá Ifá
(Senhor dos destinos). Aviso para os que estão chegando com sede de poder, que
tenham paciência e prudência.